Mulheres e Cerveja Artesanal: O Crescente Papel Feminino no Mundo Craft

Durante séculos, a produção de cerveja foi domínio das mulheres. Antes da industrialização da bebida e da sua associação ao universo masculino, eram as mulheres — as “alewives” — que dominavam a arte da brassagem. No entanto, com a evolução da sociedade e da indústria, esse papel foi sendo gradualmente apagado da memória coletiva. Felizmente, nas últimas décadas, as mulheres voltaram a ocupar o seu lugar no mundo da cerveja, em especial no universo da cerveja artesanal.

Em Portugal, esta transformação é visível e cada vez mais relevante. Cervejeiras, sommeliers, juízas de concursos, gestoras de marcas e consumidoras informadas estão a moldar o panorama cervejeiro nacional com talento, conhecimento e paixão.

O Regresso das Mulheres ao Mundo da Cerveja

A explosão do movimento craft beer trouxe consigo um espírito de inclusão, diversidade e valorização da autenticidade. Com isso, muitas mulheres encontraram um espaço de expressão neste universo criativo. Se há 15 anos quase não se via uma mulher a tirar um fino ou a falar sobre dry hopping num festival, hoje em dia isso é (felizmente) cada vez mais comum.

Em Portugal, nomes como Carla Moura (fundadora do projeto Malte & Lúpulo), Ana Morgado (Beer Sommelier e colaboradora em vários concursos internacionais) e cervejeiras da Dois Corvos, Cerveja Letra e Barona têm contribuído para elevar o perfil feminino na cena cervejeira nacional.

Mulheres Cervejeiras: Entre Barris e Ideias

É importante reconhecer que as mulheres não estão apenas a consumir cerveja artesanal — estão a fazê-la, a julgá-la, a ensiná-la e a defendê-la. O contributo feminino no universo craft beer vai muito além da produção. Muitas mulheres portuguesas têm liderado iniciativas de educação sobre cerveja, dinamizado workshops, promovido sessões de harmonização com gastronomia e dado a cara por projetos que quebram estereótipos.

O colectivo internacional Pink Boots Society, que tem representação em vários países europeus, trabalha activamente para apoiar mulheres na indústria da cerveja através de formação, bolsas e visibilidade. Este tipo de iniciativas tem inspirado grupos e movimentos semelhantes em Portugal, ainda que de forma embrionária.

Desconstruir Estereótipos (com Lúpulo e Fermento)

Durante muito tempo, a cerveja foi associada ao universo masculino de forma quase caricatural — basta pensar nas campanhas publicitárias dos anos 80 e 90. A cerveja "forte", "amarga", "de homem". Esta narrativa, além de ser redutora, ignorava por completo as preferências, os paladares e os saberes femininos.

Hoje, as mulheres não apenas desafiam esses estereótipos como os destroem com competência e paixão. Muitas lideram produções de estilos complexos, como Imperial Stouts com adjuntos, Saisons com blends de leveduras selvagens ou NEIPAs repletas de camadas aromáticas.

O Público Feminino Está a Crescer

O interesse feminino por cerveja artesanal também se traduz no número crescente de consumidoras exigentes e curiosas. Workshops de iniciação ao mundo da cerveja, provas em lojas especializadas, tours por fábricas e até eventos exclusivamente femininos têm registado mais participantes mulheres — muitas vezes mais entusiastas e dedicadas do que os próprios homens.

Este fenómeno não é exclusivo de Portugal. Em países como os EUA, Reino Unido, Espanha e Brasil, as mulheres já representam uma fatia significativa dos consumidores regulares de cerveja craft. Portugal segue essa tendência, embora ainda com espaço para crescer.

O Caminho a Percorrer

Apesar dos avanços, a verdade é que a indústria cervejeira ainda enfrenta desafios relacionados com a igualdade de género. O sexismo ainda existe em algumas marcas, eventos ou ambientes de trabalho. Representatividade real, oportunidades iguais e respeito mútuo são metas que, embora cada vez mais próximas, ainda exigem atenção e esforço contínuo.

É necessário continuar a dar palco a mulheres com talento e voz. É preciso integrar mais mulheres nos painéis de concursos, nas equipas de brassagem, na gestão de marcas e, acima de tudo, nas narrativas das histórias da cerveja artesanal em Portugal.

Conclusão: Um Brinde ao Futuro (e ao Passado Redescoberto)

A presença feminina no universo da cerveja artesanal portuguesa está longe de ser apenas uma tendência passageira. É o reflexo de uma mudança estrutural, cultural e profundamente criativa. As mulheres estão a redefinir o que é ser cervejeiro, e estão a fazê-lo com garra, conhecimento e identidade própria.

Num sector que celebra a diferença, a inovação e a autenticidade, a diversidade de género é não só bem-vinda, como essencial. Porque a cerveja não tem género — tem sabor, tem cultura e tem histórias para contar. E muitas dessas histórias, hoje, estão a ser escritas por mulheres.

🎯 Conheces mulheres que fazem parte do mundo da cerveja artesanal? Partilha este post com elas e ajuda-nos a valorizar o seu contributo. Segue o nosso blog para mais conteúdos em www.cobeertaste.com e usa a hashtag #CobeerTaste para nos mostrares as tuas cervejas favoritas.

Anterior
Anterior

O Regresso às Origens: Cervejas com Ingredientes Locais e de Época

Próximo
Próximo

A Revolução das Cervejas Ácidas em Portugal: Tendência ou Movimento Permanente?