DEATH BREW

A névoa gelada de 31 de Outubro, densa e pegajosa, abraçava as ruas sinuosas da pequena cidade portuária de Porto Negro, um enclave misterioso na costa de uma Portugal alternativa e sombria. As abóboras esculpidas em sorrisos grotescos piscavam em varandas sombrias, enquanto risadas infantis e o sussurro de folhas secas ao vento compunham a banda sonora macabra da noite. Para Ricardo e Rafael, dois amigos cuja paixão pela cerveja artesanal era tão profunda quanto a lealdade que os unia, o Halloween era mais do que apenas um dia de doces ou travessuras. Era a época perfeita para caçar a cerveja mais rara, a mais exótica, a que prometia uma experiência sensorial inesquecível.

Ricardo, com a sua barba meticulosamente aparada e um brilho perspicaz nos olhos por trás dos óculos, era o estudioso do duo, o enciclopédico conhecedor de lúpulos e leveduras. Rafael, mais impulsivo e aventureiro, era o mestre da descoberta, sempre em busca da próxima grande sensação no mundo da cerveja. Naquela noite, a sua busca levava-os a um beco esquecido nos confins de Porto Negro, um lugar que raramente via a luz do dia, quanto mais a luz do luar. Ali, aninhado entre edifícios dilapidados e cheirando a mofo e mistério, ficava o "Antiquário das Curiosidades Obscuras".

Boatos sobre o lugar circulavam entre os entusiastas da cerveja artesanal: dizia-se que o excêntrico proprietário, um homem diminuto com olhos de contas e um sorriso enigmático, por vezes, vendia garrafas de colecção que desafiavam o tempo e a razão. Ao empurrarem a porta rangente, o som de um sino antigo ecoou pelo silêncio poeirento. O ar estava pesado com o cheiro a incenso e velhos livros, e sombras dançavam ameaçadoramente nas prateleiras carregadas de artefactos esquecidos.

"Bem-vindos, cavalheiros", sibilou uma voz rouca das profundezas da loja. O proprietário emergiu das sombras, os seus olhos fixos nos dois amigos. "Procuram algo em particular nesta noite tão... especial?"

Ricardo, com um ligeiro nervosismo, mas sem perder a compostura, respondeu: "Ouvimos dizer que talvez tenha algumas relíquias no seu sortido, algo único, talvez até... lendário, no que toca a cervejas."

Um sorriso enigmático curvou os lábios do proprietário. "Ah, lendário, dizem? Pois bem, tenho algo que poucos tiveram o privilégio de contemplar, quanto mais de provar." Com um gesto dramático, ele puxou um pequeno caixote de madeira escura de debaixo do balcão. Dentro, aninhada em seda púrpura gasta, estava uma garrafa de cerveja. Era de um vidro quase preto, tão escuro que parecia absorver a luz da lanterna de gás. O rótulo, feito de um pergaminho antigo e amarelado, exibia uma caveira estilizada com chifres retorcidos e o nome gravado em letras góticas que pareciam escorrer sangue seco: "Death Brew".

- Esta… começou o proprietário com um tom cerimonioso:

- É a 'Death Brew'Dizem que foi fabricada por um alquimista amaldiçoado no século XVII, nas catacumbas secretas de uma velha abadia portuguesa, que procurava a imortalidade através da fermentação. Ele conseguiu a eternidade, sim, mas não da forma que esperava.

O proprietário fez uma pausa para um efeito dramático:

- Um gole pode trazer visões de outros mundos; dois, a verdade mais profunda; e o terceiro... o terceiro muda-o para sempre. Mas estejam avisados: o preço é mais do que apenas dinheiro.

Ricardo e Rafael trocaram olhares. O coração de cervejeiro de Rafael pulsava com excitação:

 - Compramos! exclamou ele, já a sacar a carteira. Ricardo, um pouco mais cauteloso, sentia um arrepio estranho na nuca, mas a curiosidade era avassaladora. Aquele era o tipo de lenda que eles viviam para encontrar.

Após uma transacção que lhes custou uma pequena fortuna e um misterioso pergaminho com instruções ilegíveis, os dois amigos saíram do antiquário, a garrafa de "Death Brew" firmemente segura por Ricardo. A névoa parecia ainda mais espessa agora, e cada sombra parecia ganhar vida própria.

Chegaram ao apartamento de Ricardo, um santuário de cervejas artesanais e memorabilia cervejeira. Com reverência quase religiosa, colocaram a "Death Brew" na mesa, sob a luz ténue de uma lâmpada.

- Pronto para a nossa maior aventura, Ricardo? perguntou Rafael, com um sorriso largo.

- Se esta garrafa for tudo o que dizem Rafael, esta noite entra para a história da nossa confraria cervejeira. respondeu Ricardo, os olhos fixos no rótulo.

Com cuidado, Ricardo abriu a garrafa. Um cheiro peculiar, uma mistura de terra húmida, especiarias exóticas e um toque metálico, emanou da abertura. A cerveja era de um negro azeviche, densa e opaca. Ao ser derramada em dois cálices de cristal, parecia quase oleosa, e a sua espuma, de um vermelho escuro e borbulhante, parecia… viva.

- Um brinde ao desconhecido, disse Rafael, levantando o seu cálice.

- E que o sabor seja lendário", acrescentou Ricardo, seguindo o gesto.

O Primeiro Gole:

O líquido era surpreendentemente suave ao paladar, com notas complexas de café torrado, chocolate amargo e algo floral, mas com um travo estranho, quase picante, que se demorava na língua.

De repente, o mundo de Ricardo pareceu expandir-se. Imagens caleidoscópicas de florestas antigas, rituais pagãos sob luas cheias e rostos distorcidos de sofrimento e êxtase inundaram a sua mente. Sentiu a terra debaixo dos seus pés, o soprar do vento através de árvores milenares e o pulsar de um ritmo primordial. Viu o Porto Negro, não como o conhecia, mas como um porto assombrado por navios fantasmas e almas perdidas que vagueavam pelas ruas empedradas.

Rafael, por sua vez, experimentou uma sensação de euforia intensa, uma energia que pulsava através das suas veias. O seu corpo parecia mais leve, mais forte, e os seus sentidos aguçados. Podia ouvir o rangido do vento nas folhas lá fora, o bater distante de um coração e até o cheiro quase imperceptível da humidade que emanava das paredes do velho casario do Porto Negro.

- Uau, murmurou Rafael, os olhos arregalados: Isto é… diferente de tudo.

Ricardo, ainda a digerir as visões, assentiu lentamente:

- É mais do que uma cerveja. É uma experiência.

O Segundo Gole:

A curiosidade e a euforia levaram-nos ao segundo gole. Desta vez, o sabor era mais intenso, o travo picante mais pronunciado, quase ferroso.

Para Ricardo, as visões tornaram-se mais nítidas e perturbadoras. Viu o alquimista amaldiçoado, com olhos injectados de sangue e um sorriso macabro, a trabalhar na sua caldeira borbulhante nas catacumbas húmidas, misturando ingredientes que pareciam ter vida própria. O ar nos seus pulmões pareceu ficar pesado, e um frio gélido percorreu a sua espinha. Ele viu a maldição: o alquimista, preso num ciclo eterno de morte e renascimento, a sua alma diluída em cada garrafa de "Death Brew". Viu a sua própria cidade, Porto Negro, a ser consumida pela escuridão, as almas dos seus habitantes presas num tormento eterno.

Rafael sentiu uma alteração mais física. Os seus músculos contraíram-se, uma fome estranha e insaciável começou a roer o seu estômago. O seu corpo começou a formigar, e uma sensação de poder e agressividade encheu-o. Os cheiros, antes aguçados, tornaram-se avassaladores, e um som que antes era um sussurro distante, agora parecia um grito perto dele.

- Algo não está certo Rafael, disse Ricardo, a voz tensa: Sinto… a maldição!!.

Rafael apenas riu, um riso gutural e estranho:

- Maldição? Isto é liberdade, Ricardo! Sinto-me… invencível!

O Terceiro Gole:

Apesar do medo que se instalava em Ricardo, e da euforia desenfreada de Rafael, a tentação do último gole era demasiado forte. A promessa de "mudar para sempre" pairava no ar como uma ameaça e uma promessa. Com as mãos trémulas, Ricardo levou o cálice aos lábios. Rafael, com um brilho selvagem nos olhos, imitou-o sem hesitação.

O líquido desceu. Foi como fogo líquido, queimando a sua garganta e espalhando-se rapidamente por todo o seu ser.

Ricardo sentiu uma dor excruciante a rasgar o seu corpo, como se cada célula estivesse a ser reconstruída. A sua pele ficou pálida, quase cinzenta, e as suas veias incharam e escureceram sob a superfície. Os seus dentes ficaram pontiagudos, e os seus olhos, antes cheios de inteligência, agora brilhavam com uma luz amarelada e faminta. O cheiro de carne, o cheiro de sangue… era tudo o que conseguia sentir. A sua mente, antes um repositório de conhecimento cervejeiro, agora estava cheia de um único e avassalador instinto: caçar.

Rafael foi tomado por uma transformação ainda mais violenta. Os seus olhos afundaram-se nas órbitas, a sua pele rachou e ficou com um tom esverdeado pútrido. As suas unhas alongaram-se em garras afiadas, e a sua boca abriu-se num grunhido que não era humano. A sua roupa, antes intacta, começou a rasgar-se à medida que o seu corpo se contorcia e expandia. A sede que sentia antes, agora era uma fome voraz, insuportável, por algo que sabia que não podia ser saciado por cerveja.

O alquimista amaldiçoado não havia morrido; ele havia-se espalhado, as suas almas diluídas em cada garrafa de "Death Brew", à espera de novos hospedeiros. Ricardo e Rafael, os dois amigos apaixonados por cerveja, tinham-se tornado a sua mais recente manifestação.

A maldição não era sobre o sabor da cerveja, mas sim sobre o sabor que as suas novas formas iriam procurar. A paixão pela cerveja artesanal havia-se transformado numa paixão por algo muito mais sombrio.

A névoa do lado de fora parecia chamar por eles. Com um último olhar um para o outro – um olhar que já não continha reconhecimento, apenas a fome primordial – os recém-transformados Ricardo e Rafael ergueram-se. As suas roupas rasgadas e os seus corpos decrépitos eram o testemunho da sua nova existência.

Naquela mesma noite, em outro canto do Porto Negro, num bar de esquina mal iluminado onde o cheiro a cerveja barata e cigarros velhos pairava no ar, um grupo de amigos celebrava o Halloween. Entre eles, uma mulher de cabelos ruivos e olhos penetrantes, que era a historiadora local, com um fascínio mórbido pelo folclore sombrio da região e um livro de capa de couro desbotado sempre à mão. Ao seu lado, um homem corpulento com cicatrizes de batalha no rosto, um ex-soldado que jurava ter visto os piores horrores, mas cujo coração começava a gelar. Ambos tinham sido convidados por Ricardo e Rafael para a secreta degustação da "Death Brew", mas um atraso inexplicável — um engarrafamento misterioso que paralisou as ruas do Porto Negro — salvara-os dos primeiros goles.

A historiadora sentiu um calafrio inexplicável, um pressentimento agourento que a fez largar o seu copo de cerveja morna. A sua mente, sempre ligada às lendas sombrias do Porto Negro, começou a unir pontos terríveis. Ela decidiu que tinha de voltar ao antiquário. Ao chegar, encontrou o proprietário, com um sorriso ainda mais largo e olhos que brilhavam no escuro, a embalar mais garrafas da "Death Brew" para a entrega a um mensageiro encapuzado:

- Outros virão, sibilou ele, a sua voz um ruído ainda mais sibilante:

- E o banquete será completo!! 

A historiadora sentiu o terror arrepiar-lhe a pele até aos ossos e fugiu, o coração a bater como um tambor de guerra, correndo para avisar o ex-soldado.

Enquanto isso, Ricardo e Rafael, agora transformados em horrores ambulantes, com a pele pálida e os dentes afiados, cambaleavam pelas ruas escuras. Os seus grunhidos e a sede incontrolável por carne começaram a atrair a atenção. A primeira vítima foi um jovem embriagado, que voltava de uma festa de Halloween, o seu grito abafado pela névoa e pela escuridão. O rasto de destruição e sangue começou a desenhar-se nas ruas de pedra.

A historiadora e o ex-soldado, armados com o conhecimento da mulher sobre antigas lendas e a destreza do homem com armas improvisadas — um bastão de beisebol e um pé-de-cabra enferrujado — tentaram encontrar Ricardo e Rafael antes que fosse tarde demais. A cidade, antes festiva e cheia de risos, transformou-se num pesadelo vivo. Outras garrafas de "Death Brew" haviam sido vendidas, e outros habitantes, incautos e sedentos por algo novo, começavam a sentir os efeitos do terceiro gole. Gritos ecoavam pelas vielas escuras, e silhuetas distorcidas perseguiam os poucos sobreviventes que ainda mantinham a sanidade.

Eles descobriram que o alquimista amaldiçoado, cujo nome se perdera no tempo, era um antigo cervejeiro da abadia, obcecado pela ideia de uma "fermentação perfeita" que o ligasse à própria essência da vida... e da morte. A sua alma fragmentada habitava cada garrafa, e a cada transformação, o seu poder crescia, alimentado pela nova fome dos infectados. Ele era o mestre de marionetes, e os seus "bebedores" as suas novas marionetes de carne putrefacta.

Ricardo e Rafael eram apenas os primeiros elos de uma cadeia de contágio que ameaçava consumir Porto Negro. A historiadora compreendeu que a única forma de quebrar a maldição era destruir a fonte original da "Death Brew" – o próprio alquimista, que agora era um espírito malevolente que se manifestava nos seus hospedeiros. Mas como matar algo que já estava morto, e que se espalhava a cada gole, cada mordida, cada transformação?

A caça estava acesa. Os amigos, agora inimigos vorazes, perseguiam os sobreviventes na noite de Halloween, a sua sede insaciável por algo mais do que cerveja, um novo e horrível "COBEER TASTE" – o sabor da carne, do medo, da vida que lhes tinha sido roubada. A historiadora e o ex-soldado sabiam que o tempo estava a esgotar-se. Se a maldição se espalhasse por toda a cidade, Porto Negro estaria condenada a uma eternidade de terror, uma festa de Halloween sem fim, onde os "truques" eram fatais e os "doces" eram as almas e os corpos dos incautos.

O Final Terrorizante:

A historiadora e o ex-soldado, exaustos e cobertos de fuligem e sangue – o deles e o de outros –, encontravam-se no coração da velha cidade, perto do cais, onde a névoa parecia ainda mais densa, mais viva. O cheiro a sal e morte misturava-se numa fragrância nauseabunda. De repente, uma figura cambaleante emergiu da bruma, a silhueta inconfundível. Ricardo. A sua pele era agora uma massa cinzenta e putrefacta, os seus óculos partidos, pendurados num único suporte, revelando olhos que ardiam com uma fome infernal. As suas roupas, antes impecáveis, estavam rasgadas e manchadas de algo escuro e viscoso.

- Ricardo…sussurrou a historiadora, a voz embargada pelo horror.

- Lembras-te de nós?

Ricardo parou, os olhos vazios fixos nela. Um som gutural, um misto de grunhido e um nome distorcido, saiu da sua garganta:

 - Rrrricardooo? Sssabor... ah, o sssabor...

- Ele está perdido, rosnou o ex-soldado, apertando o cabo do seu pé-de-cabra:

Temos que acabar com isto.

Mas antes que pudessem agir, uma segunda figura irrompeu da névoa. Rafael. O seu boné havia desaparecido, e o seu rosto era agora uma caricatura de terror, com rasgos de pele pendurados e dentes serrilhados. Ele segurava um osso humano na mão, que rangia quando a apertava.

- Rafael!!! gritou a historiadora, uma última tentativa desesperada.

Rafael soltou um uivo que ecoou no cais, um som mais animal do que humano, e avançou, os seus movimentos rápidos e desarticulados. Ricardo juntou-se a ele, e os dois amigos, agora monstros, moveram-se em uníssono, os seus olhos fixos nos últimos alvos que lhes restavam.

- Não são eles. Disse o ex-soldado, com a sua voz estranhamente calma, mas os olhos selvagens.

- São apenas invólucros. Ele levantou o pé-de-cabra e em tom mais agressivo:

- Isto tem de acabar aqui.

A historiadora, porém, tinha uma ideia. No meio do caos, ela lembrou-se do pergaminho que acompanhava a garrafa de "Death Brew". "O alquimista… ele está neles! A maldição… é a sua imortalidade!"

Numa acção desesperada, o ex-soldado confrontou Ricardo, enquanto a historiadora, com o livro na mão, tentava recitar um antigo encantamento que lera sobre banir espíritos. Mas as palavras eram antigas, e o terror, real.

Rafael atirou-se ao ex-soldado com uma ferocidade surpreendente, a sua força sobre-humana a derrubar o homem corpulento. Ricardo, por sua vez, agarrou a historiadora pelo braço, os seus dedos frios e duros como garras. Ela sentiu o hálito podre na sua face, e viu nos seus olhos amarelados não a fome de Ricardo, mas uma inteligência antiga e maligna.

- O sssabor... é eterno. sibilou a voz do alquimista através da boca de Ricardo, os lábios mal se movendo.

- Eles são a minha legião. Tu serás a minha testemunha.

O ex-soldado conseguiu soltar-se de Rafael, cravando o pé-de-cabra no peito do monstro, mas não houve grito, apenas um grunhido de raiva e mais avanços. Nada parecia detê-los.

A historiadora sentiu a sua vida a esvair-se. Ela olhou para o mar escuro, para a névoa que dançava sobre as águas, e compreendeu. Não havia salvação. Não havia forma de matar algo que já estava em toda a parte. A maldição não era um evento, era uma condição.

E então, do meio da névoa que cobria o Porto Negro, não surgiram apenas Ricardo e Rafael. Começaram a emergir outras figuras, rostos familiares da cidade, agora distorcidos e famintos, os seus olhos brilhando com a mesma luz amarelada. Uma jovem mulher, que trabalhava na padaria. Um velho pescador. Um grupo de adolescentes que tinham ido a uma festa. Todos com o mesmo rasto de desespero e fome nos seus olhos, as suas roupas rasgadas, as suas peles pálidas. Eram muitos. Demasiados.

Ricardo, com um riso cavernoso que parecia vir de sepulturas, empurrou a historiadora para o chão. Ela viu os outros 'bebedores' a aproximarem-se, uma legião silenciosa e implacável.

- O banquete começou, historiadora, sibilou a voz do alquimista através dos lábios de Ricardo.

- E o seu sabor... será o aperitivo.

O ex-soldado caiu, derrubado por Rafael e por outro dos transformados. O seu último som foi um grito abafado.

A historiadora, deitada no chão frio e húmido do cais, viu as silhuetas aproximarem-se. Não havia heroísmo aqui, apenas o fim. O medo não era o de morrer, mas o de se tornar um deles, de ver a sua própria mente consumida por uma sede primordial. A garrafa de "Death Brew" tinha cumprido a sua promessa. Não apenas os mudara para sempre, mas mudara Porto Negro, e talvez, o mundo inteiro.

A névoa do Porto Negro nunca mais levantaria por completo, e o cheiro a mofo e metal misturado com o sal do mar seria a sua eterna fragrância. Os gritos daquela noite de Halloween não eram um fim, mas o início de uma sinfonia de terror que se prolongaria pela eternidade. E algures, no Antiquário das Curiosidades Obscuras, o proprietário, com os seus olhos de obsidiana e um sorriso que rachava a sua face, observava a cidade a afundar-se na escuridão, com uma nova garrafa de "Death Brew" na mão, pronta para a próxima alma curiosa, a próxima vítima de "COBEER TASTE" – o sabor da morte.

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